Tuesday 12 January 2016

Morgengrauen - Amanhecer em Sol Menor




Com o roupão pingão e as pantufas felpudas, só me falta o gorro pendente na nuca e a vela na mão, para alumiar esta hora parda...
Tenho o olhar enevoado, os pensamentos ainda nem são, repousam nas mantas, pingam incertos, miúdos, como as gotas de orvalho na janela.

Não me falem, segredem-me e se for preciso!... Não estraguem esta brandura!

O cão poupado, bem sabe: apena pisca os olhos, estendido diante da vidraça do corredor. É deferente, tem vagar! Afinal, quanto menos alarido, maior a economia e a poesia! Quem diria... Dispensa-se mais filosofia.

Abro a janela, miro o Leste lusco-fusco, arejo o quarto com Janeiro. O céu cinzento é raiado dos ramos despidos da nogueira, as faias altaneiras talvez varram as nuvens.... Oxalá, não demais, não vá o sol radioso insultar a neblina!

O ar frio atravessa a roupa. Lá fora faz inverno, piam os corvos; se fosse na costa, eram gaivotas...

Sem grande destino, rojo os pezinhos de lã pelo crepúsculo da casa, sorvendo lentamente o café da chávena almoçadeira. Lá saio para o terraço, tiro a temperatura ao dia, trago um golo de vento, mirando uma rosa que floresce agora!

Recolho à brancura matinal da sala, onde ainda perdura, viçoso, o abeto tardiamente erguido; e fica. Em Janeiro, também é Natal!... Não enquanto os homens quiserem – sabe-se lá, quem eles são... – é Natal porque nestas manhãs – nossas - renascem laços ocultos e perpétuos que atravessam terras, oceanos, até aos confins do mundo!



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Morgengrauen, em alemão, traduz-se por alvorada.... Literalmente, porém, quer dizer “cinzento matinal” e esta pequena diferença é essencial porque subtrai o sol português, compreensivelmente implícito na palavra “alvorada” e em todos os seus sinónimos (amanhecer, alba, alvor, etc.). Afinal, sem sol também há dia. A língua ideal é composta de muitos idiomas.